Quando o documentário de Werner Herzog “Caverna dos Sonhos
Esquecidos” entrou em cartaz muita gente torceu o nariz. Afinal, o 3D era um
recurso consagrado em filmes tipo blockbusters. Contudo para se afirmar que o
efeito 3D no filme do Herzog não tem uma função de linguagem temos de negá-lo
como um efeito de sentido. Assim, teríamos de admitir que ele não tem conteúdo pois
nada expressa ao receptor da imagem.
Portanto, temos de supor que não houve nenhuma razão para que o efeito
estivesse lá ou que ele não diz respeito ao espectador.
Quando F. Murnau lançou Nosferatu em 1922, ele usou uma
técnica ainda bem rudimentar para dar cores ao seu filme. Ele coloriu a
película ora de azul e ora de laranja. Nas cenas em que o sol ou uma luz
apareciam o filme ficava laranja; nas cenas noturnas, a película tinha uma cor
azulada. Murnau nunca deixou claras as suas intenções, explicando-as em um texto
ou em uma entrevista. Tanto que durante anos o filme foi exibido e lançado em
DVD o VHS apenas em preto e branco. Somente há alguns anos, as cópias têm sido
lançadas com o embrionário colorido de Murnau; inclusive a cópia projetada no
encerramento da 36ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Não é difícil imaginar que Murnau pretendia comunicar alguma
coisa ao espectador com esses efeitos rudimentares. Mais do que marcar a luz,
ou diferenciar o dia da noite – coisa que o roteiro já deixa bem claro – ele
queria adicionar sentidos ao seu filme, até por isso usou alternadamente cores
quentes e cores frias. Era um efeito, era uma técnica, mas era, sobretudo
linguagem. Pois comunicavam algo a quem assistia ao filme. Esses efeitos
A cor no cinema nem sempre pode ser entediada como um
recurso de linguagem. Alguns filmes ou programas de tevê são gravados em cores
sem que os diretores tenham se preocupado com a composição do cenário com os
objetos de cena nem com filtros usados nas lentes. Nesses casos a cor é apenas
um recurso técnico como outro. No entanto, diretores como Krzysztof Kieslowski,
Pedro Almodóvar, Tim Burton entre outros procuram usar as cores em seus filmes
como um elemento a mais.
Do mesmo modo, quando Woody Allen optou por lançar Neblinas
e Sombras em 1999 em preto e branco, ele queria fazer referência ao noir e acrescentar um tom sombrio à sua
narrativa. Nesse caso, o preto e branco passam a ser um recurso de linguagem,
já que o diretor quis premeditadamente que o espectador tivesse uma visse algo
a mais quando retirou as cores. Para Allen, há uma razão para que as cores não
estivessem ali, isso é técnica e é linguagem, já que tem o objetivo de
transmitir uma sensação, uma ideia, um pensamento a quem está assistindo ao
filme. O mesmo talvez não se possa dizer de um filme – feito em preto e branco
– quando não havia a opção de fazê-lo em cores.
Por que o Herzog fez um filme 3D? É obvio que ele não queria
fazer só um documentário sobre uma caverna. As figuras estavam desenhadas sobre
a superfície irregular das paredes de uma caverna e não sobre uma parede de
alvenaria (2D). Ele pretendia transmitir a sensação de se observar aquelas
ilustrações tal qual elas foram encontradas. Se ele faz uso de uma técnica para
transmitir uma sensação, ela passa a ser um efeito de sentido; portanto possui
um conteúdo e expressa
Desde o sucesso mundial de Avatar de James Cameron em 2009, o
efeito tridimensional, 3D, passou a ser usado em profusão em filmes de
fantasia, ação, terror e aventura. A técnica é nova e por essa razão ainda é
vista por alguns como rudimentar e precária. Pode ser. Mas é um caminho sem
volta. O cinema terá cada vez mais filmes usando essa técnica, goste dela ou
não.
Mesmo a fotografia de um filme em preto e branco está
impregnada de recursos em que