quarta-feira, 13 de maio de 2009

À procura do espírito de Pierre Ménard

Talvez vocês façam idéia do arrependimento que temos quando se marca uma mesa branca com uma cara que acredita que Pierre Ménard, um escritor que sequer existiu, é uma reencarnação de Miguel de Cervantes.

No princípio pensei que seria uma grande piada, mas depois comecei a ver que o tal de Vigatti, realmente era uma espécie de alucinado pelo assunto, ele acreditava falar com o espírito de Ménard, tanto que tinha ido a Illinois para visitar a sua casa.

Fui para casa pensando em reler o conto de Borges. No caminho me lembrara que eu havia emprestado o Ficções a um amigo; e todos nós sabemos empiricamente o que isso significa. Fui para minha casa e comecei a folhear o volume três das obras completas do Borges. O primeiro conto do Livro da Areia chama-se “O Outro”. É uma história em que o velho Jorge Luis Borges encontra o jovem Jorge Luis Borges, eles conversam e um fala ao outro como anda a vida, e o velho conta ao novo detalhes do que aconteceu com o mundo. Tudo se passa em um sonho. Depois de ler o conto comecei a pensar o que o tal de Osmar Vigatti, poderia fazer com isso. Pensei em coisas como Borges ser a reencarnação do Sobrenatural de Almeida. Dentre as teorias Absurdas que já ouvi de cientistas kardecistas, Nelson Rodrigues tinha algumas ótimas, além de ter sido exaustivamente psicografado – e diga-se de passagem a morte fez muito mal ao seu estilo –, houve uma vez um camarada que dizia que Suzana Flag era um espírito que possuía Nelson para narrar sua vida com o objetivo de se eximir de seus pecados, ele citava como exemplo o título da sua “autobiografia” Diário de uma pecadora, e de outro dos seus livros Meu destino é pecar. Ele via nessa recorrência um espécie de arrependimento do espírito que aqui na Terra, se entregara à essa vida mundana. Lembro-me que o sujeito chegou a pesquisar para ver se encontrava alguma mulher que tivera uma vida semelhante à de Suzana Flag. É óbvio que ele encontrou. Dentro de um universo de 43 mulheres, ele fechou em 8 estudou a fundo essas e chegou a três possibilidades. O sujeito conseguiu realizar um simpósio no qual o objetivo seria determinar qual das eleitas seria a verdadeira Suzana Flag. Depois de muitas discussões acaloradas e de debates, chegaram a uma conclusão: na verdade Suzana Flag não era nenhuma das três, mas as três ao mesmo tempo. A teoria vitoriosa dizia que as três se revezavam e que cada hora uma delas ditava a sua história como se o pobre Nelson, além de trabalhar com um cão, fosse ainda uma espécie de cavalo de sirigaita.

Voltando à busca do espírito de Ménard. Tive vontade mais uma vez de ler a dedicatória de meu único volume das obras de Borges: “À (nome coberto com corretivo), pelo fascínio de conhecê-la e poder desfrutar de sua companhia, em palavras, gestos, e emoções. Por tais razões sou eternamente grato, por tê-la conhecido pois, ninguém passa pela nossa vida ao acaso (sic). 19/05/02 de (não consigo identificar a assinatura)”. Deveria mostrar essa dedicatória ao tal do Vigatti. Quem sabe, ele não encontra um sentido obscuro nessas linhas?

O lema “Ordem e Progresso” dentro do vocabulário dos positivistas brasileiros


A atual bandeira da República Federativa do Brasil é, na verdade, uma reformulação pintada por Décio Villares do desenho feito pelo artista francês Jean Baptiste Debret para a bandeira do Império Brasileiro.

Com a proclamação da República, em 1889, algumas versões para o estandarte foram apresentadas; a opção escolhida foi concebida pelos diretores do Apostolado Positivista do Brasil Raimundo Teixeira Mendes e Miguel Lemos, e por Manuel Pereira Reis, catedrático de astronomia da Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Nessa bandeira basicamente se retirou o brasão imperial e o substituiu por um círculo, em que está estampada uma representação do céu em 15 de novembro de 1889, cortado por uma faixa branca em que se lê o lema “Ordem e Progresso”. Essa expressão não tem origem exatamente na fórmula máxima do Positivismo de Augusto Comte: “O amor por princípio, a ordem por base, o progresso por fim”.

A presença desse lema na bandeira se deve à influência definitiva que filósofos positivistas como Luís Pereira Barreto, Teixeira Mendes e Miguel Lemos – além de simpatizantes desse pensamento como Benjamin Constant – tiveram na proclamação da República no Brasil. A expressão já era usada por Pereira Barreto em seus artigos contra o Império e a presença da Igreja no Estado e nos panfletos e livros publicados pelo Apostolado no Brasil.

A filosofia positivista propunha uma reforma completa na sociedade. Essa reforma envolveria uma reelaboração da educação pautada principalmente por uma sólida base ética. Para tanto, Comte propunha que se deveria estudar a sociedade de uma forma análoga à que se estuda a física dos elementos brutos (química, astronomia e física propriamente dita) e a física dos elementos complexos (biologia, fisiologia e medicina), criando assim uma física social (sociologia). Por meio dessa física social, seriam encontradas leis naturais (ou imperativos categóricos) que iriam compor bases para a conduta, estabelecendo o papel de cada elemento dentro da sociedade.

Quando da proclamação da República, os positivistas brasileiros imaginavam que uma nova sociedade brasileira que seria fundada sobre o lema do positivismo, encontrando-se as leis para o progresso dentro da ordem.