Talvez vocês façam idéia do arrependimento que temos quando se marca uma mesa branca com uma cara que acredita que Pierre Ménard, um escritor que sequer existiu, é uma reencarnação de Miguel de Cervantes.
No princípio pensei que seria uma grande piada, mas depois comecei a ver que o tal de Vigatti, realmente era uma espécie de alucinado pelo assunto, ele acreditava falar com o espírito de Ménard, tanto que tinha ido a Illinois para visitar a sua casa.
Fui para casa pensando em reler o conto de Borges. No caminho me lembrara que eu havia emprestado o Ficções a um amigo; e todos nós sabemos empiricamente o que isso significa. Fui para minha casa e comecei a folhear o volume três das obras completas do Borges. O primeiro conto do Livro da Areia chama-se “O Outro”. É uma história em que o velho Jorge Luis Borges encontra o jovem Jorge Luis Borges, eles conversam e um fala ao outro como anda a vida, e o velho conta ao novo detalhes do que aconteceu com o mundo. Tudo se passa em um sonho. Depois de ler o conto comecei a pensar o que o tal de Osmar Vigatti, poderia fazer com isso. Pensei em coisas como Borges ser a reencarnação do Sobrenatural de Almeida. Dentre as teorias Absurdas que já ouvi de cientistas kardecistas, Nelson Rodrigues tinha algumas ótimas, além de ter sido exaustivamente psicografado – e diga-se de passagem a morte fez muito mal ao seu estilo –, houve uma vez um camarada que dizia que Suzana Flag era um espírito que possuía Nelson para narrar sua vida com o objetivo de se eximir de seus pecados, ele citava como exemplo o título da sua “autobiografia” Diário de uma pecadora, e de outro dos seus livros Meu destino é pecar. Ele via nessa recorrência um espécie de arrependimento do espírito que aqui na Terra, se entregara à essa vida mundana. Lembro-me que o sujeito chegou a pesquisar para ver se encontrava alguma mulher que tivera uma vida semelhante à de Suzana Flag. É óbvio que ele encontrou. Dentro de um universo de 43 mulheres, ele fechou em 8 estudou a fundo essas e chegou a três possibilidades. O sujeito conseguiu realizar um simpósio no qual o objetivo seria determinar qual das eleitas seria a verdadeira Suzana Flag. Depois de muitas discussões acaloradas e de debates, chegaram a uma conclusão: na verdade Suzana Flag não era nenhuma das três, mas as três ao mesmo tempo. A teoria vitoriosa dizia que as três se revezavam e que cada hora uma delas ditava a sua história como se o pobre Nelson, além de trabalhar com um cão, fosse ainda uma espécie de cavalo de sirigaita.
Voltando à busca do espírito de Ménard. Tive vontade mais uma vez de ler a dedicatória de meu único volume das obras de Borges: “À (nome coberto com corretivo), pelo fascínio de conhecê-la e poder desfrutar de sua companhia, em palavras, gestos, e emoções. Por tais razões sou eternamente grato, por tê-la conhecido pois, ninguém passa pela nossa vida ao acaso (sic). 19/05/02 de (não consigo identificar a assinatura)”. Deveria mostrar essa dedicatória ao tal do Vigatti. Quem sabe, ele não encontra um sentido obscuro nessas linhas?
quarta-feira, 13 de maio de 2009
O lema “Ordem e Progresso” dentro do vocabulário dos positivistas brasileiros
A atual bandeira da República Federativa do Brasil é, na verdade, uma reformulação pintada por Décio Villares do desenho feito pelo artista francês Jean Baptiste Debret para a bandeira do Império Brasileiro.
Com a proclamação da República, em 1889, algumas versões para o estandarte foram apresentadas; a opção escolhida foi concebida pelos diretores do Apostolado Positivista do Brasil Raimundo Teixeira Mendes e Miguel Lemos, e por Manuel Pereira Reis, catedrático de astronomia da Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Nessa bandeira basicamente se retirou o brasão imperial e o substituiu por um círculo, em que está estampada uma representação do céu em 15 de novembro de 1889, cortado por uma faixa branca em que se lê o lema “Ordem e Progresso”. Essa expressão não tem origem exatamente na fórmula máxima do Positivismo de Augusto Comte: “O amor por princípio, a ordem por base, o progresso por fim”.
A presença desse lema na bandeira se deve à influência definitiva que filósofos positivistas como Luís Pereira Barreto, Teixeira Mendes e Miguel Lemos – além de simpatizantes desse pensamento como Benjamin Constant – tiveram na proclamação da República no Brasil. A expressão já era usada por Pereira Barreto em seus artigos contra o Império e a presença da Igreja no Estado e nos panfletos e livros publicados pelo Apostolado no Brasil.
A filosofia positivista propunha uma reforma completa na sociedade. Essa reforma envolveria uma reelaboração da educação pautada principalmente por uma sólida base ética. Para tanto, Comte propunha que se deveria estudar a sociedade de uma forma análoga à que se estuda a física dos elementos brutos (química, astronomia e física propriamente dita) e a física dos elementos complexos (biologia, fisiologia e medicina), criando assim uma física social (sociologia). Por meio dessa física social, seriam encontradas leis naturais (ou imperativos categóricos) que iriam compor bases para a conduta, estabelecendo o papel de cada elemento dentro da sociedade.
Quando da proclamação da República, os positivistas brasileiros imaginavam que uma nova sociedade brasileira que seria fundada sobre o lema do positivismo, encontrando-se as leis para o progresso dentro da ordem.
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