quinta-feira, 10 de abril de 2008

Filosofia de folhetim

Confesso que fico intrigado quando um tablóide ou semanário surge com uma "abordagem filosófica" para um tema polêmico. Deve existir editor que precisa desesperadamente de uma resposta que venha calar os "por que?... por que?..." que fica ecoando em seu espírito. Como para alguns, a filosofia é apenas a versão revista e ampliada do "Guia do Curioso", a resposta pode sair de lá. Aí fica parecendo que a filosofia é uma espécie de manual de explicações, lá encontramos o "certo", o "errado" e os "porquês" e o "etc."

Por mais que se entrevistem filósofos e filósofos sobre temas como a comoção popular diante de um crime ou qualquer outro assunto, dificilmente haverá um acordo entre todos.

No recente caso da morte da garota Isabella Nardoni em São Paulo, ao tentar explicar o grande interesse do público no assunto, vários veículos de mídia recorreram a psicólogos, sociólogos e, a nova moda, a filósofos. Um dos jornais falava em quebra do "Contrato Social" e outro de "Imperativo Categórico" e por aí vai. Claro que se pode usar ambos para explicar o que acontece. Mas poderíamos usar também, por exemplo, "Lei Natural". Que tal?

O que há de efetivo nessas explicações? Bom, esses termos surgiram na filosofia justamente para tentar fornecer explicações a questões como essa e sob esse aspecto elas são válidas. Não são, contudo, conclusivas como foi dito nas reportagens. É um dos cuidados que se deve ter ao trata um assunto à luz da filosofia. Isso, é claro, no caso de você não ser um filósofo formulando um pensamento ou coisa que o valha.

Isso porque uma pergunta às vezes não tem necessariamente uma resposta filosófica (ou melhor: uma resposta filosófica conclusiva). O jornalista, ao formular uma pergunta com um porquê, supõe que exista uma resposta ou que deva haver uma, e, quem sabe, supões também que pode chegar a ela por meio da investigação. Como esse processo é bem similar ao de alguns filósofos, que em geral estão sempre ocupados em responder perguntas cabeludas. O jornalista nesses casos pega um atalho e pergunta ao filósofo. Dependendo do filósofo, ele vai obter uma resposta X ou Y, ambas com validade, ou pode ter uma resposta igual a zero, também com validade.

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