quarta-feira, 23 de abril de 2008

Larry Walters

Por mais que possa ser trágico o desaparecimento do padre Adelir de Carli ao tentar quebrar o recorde de vôo em balões de aniversário, não consigo deixar de compará-lo a Anne Edson Taylor, aquela que desceu as cataratas do Niagara em um barril, lembram-se? Para mim, tipos como esse padre fazem parte do clube dos malucos suicidas.

Como há a possibilidade de nosso caro padre - tomara que não - estar hoje na cidade dos pés juntos, não vou escrever sobre ele. Já que a história dele ainda está sem o final. Em vez disso, vou falar sobre: Larry Walters. Em 1982, Larry Walters, um motorista de caminhões de Los Angeles, Califórnia, promoveu uma façanha similar à do padre de Carli.

Durante toda sua vida, Larry tentou ser piloto de aviões. Entrou para a aeronáutica, sendo, entretanto, descartado para a função em decorrência de problemas de visão.

Foi então que ele teve uma idéia genial que mudou a sua vida. Comprou 45 balões meteorológicos, encheu-os com gás hélio, amarrou tudo a uma cadeira dobrável – dessas de piquenique –, não se esquecendo de levar uma caixa de isopor com uma cerveja e uns sanduíches, caso sentisse fome ou sede. Para descer quando quisesse, levou uma arma de fogo. Com ela, era só disparar contra os balões e estourá-los. Gênio, não?

Seu plano era voar sobre seu jardim e a vizinhança a uns 10 metros de altura por algumas horas e depois descer. Só que ele não contava com um pequeno detalhe que o obrigaria a fazer uma mudança de planos. Ao cortar a corda que o segurava, em vez de subir os 10 metros planejados, ele subiu só a 5 mil metros de altitude (mais ou menos a mesma altura em que aqueles pára-quedistas que ficam um tempo fazendo acrobacias no ar saltam). Num rompante único de lucidez até o momento, Larry considerou que não seria muito viável atirar nos balões para descer àquela altitude. Assim, passou 14 horas congelando nos céus de Los Angeles, entrou na rota dos aviões (pilotos da TWA e da Delta Airlines reportaram por rádio a presença de um objeto estranho na rota do aeroporto internacional de Los Angeles). Quando hélio dos balões começou enfim a perder pressão Larry começou a descer e descer. Como a dirigibilidade de uma cadeira com balões meteorológicos não é lá muito precisa, Larry acabou aterrissando sobre uma linha de transmissão de energia elétrica. Ficou preso nos cabos elétricos nas proximidades de Long Beach por quase 20 minutos antes de ser resgatado. Reza lenda, que um dos bombeiros teria ficado indignado com Larry e perguntado: "Mas o que diabos você foi fazer lá em cima?" Ao que Larry teria respondido: "Ué? Por que? Não pode?"

Larry deixou seu trabalho como motoristas de caminhões e passou a viver em programas de entrevistas em palestras motivacionais. Até que em 1993, disparou um tiro a queima roupa no próprio coração. Suicídio? Há quem alegue que ele esperava sobreviver a isso inclusive. Para quem se safou de uma morte absurda, até que essa foi uma maneira bem intimista de morrer.

Esse tipo de aventureiro que desafia a morte sempre fascina. O padre Adelir, por exemplo, planejava ficar 20 horas suspenso por balões de festa. Para tanto, usava uma roupa especial que a protegeria do frio, um capacete, um pára-quedas e um GPS que não sabia usar. Bem arriscado não? A gente nem nota, mas algumas vezes o risco mora ao lado - ou passa ao lado. Viu? Então olhe pela janela do seu carro quando estiver em um engarrafamento. Imagine dirigir uma moto a 100 por hora por um corredor de 30 centímetros, onde a qualquer instante um carro pode mudar de faixa e atingi-lo? Só no ano passado morreram mais de 400 na cidade de São Paulo. Hoje de manhã foram mais dois. O trânsito de são Paulo mata por ano mais motociclistas do que o Irã de condenados à morte. Proporcionalmente, morrem mais motociclistas aqui do que aventureiros que saem por aí dependurados em balões de festa. Já nem estou mais achando o padre Adelir tão maluco assim.

2 comentários:

Anônimo disse...

Moral da história:

O padre Adelir deveria ter levado uma arma de fogo. Uma que ele soubesse usar...

André Campos Mesquita disse...

As ultimas palavras do padre de Carli, para mim, resumem tudo:
"- Oi, por favor, alguém me ajude a ligar o GPS".